Publicado por: Alexandre Malhado | 23-04-2019

A Fé e o Escopo da Religião

Vivenciar a fé é algo pessoal, mas rotular o que você pratica como uma religião envolve um compromisso e uma conscientização maiores, do tipo que as pessoas estão cada vez mais “alérgicas” a assumir. Tem se mostrado cada vez mais fácil fugir de deveres e responsabilidades, geralmente usando a sua “liberdade de culto” como defesa para distorcer e mesmo subverter o que dizem seguir. A questão, entretanto, é que não existe liberdade de fato sem responsabilidade.

Como falei, a fé é uma experiência pessoal e ela nunca será a mesma de uma pessoa para outra. Vivenciar o fenômeno religioso deve e precisa ser algo livre, mas no momento em que você decide definir a sua vivência como uma religião específica é necessário saber o que se faz e ter a postura ética de separar o que faz parte apenas dela do que seja a religião. Não se pode fazer algo de cunho pessoal e que tenha significado para si mas desprovido de uma profunda relação com os dogmas, a liturgia, a história, a cultura e os valores que formam uma religião e rotular isso pelo seu nome.

Extrapolar o seu direito a fim de definir o que você faz com um rótulo que envolve muito mais pessoas é algo não apenas desrespeitoso para com o outro, mas um crime tão hediondo quanto, por exemplo, um estupro. Isso não é liberdade, é no mínimo uma irresponsabilidade, quando não um ato de má fé. E no momento em que você começa a divulgar algo que você pratica como parte de um sistema religioso você está invadindo o íntimo de outras pessoas e atacando o sentimento de sagrado de todos os que seguem essa fé, e não apenas uma ideia ou um conceito abstrato que, outra das justificativas para tentar justificar o injustificável, “não tem direitos”.

Ideias não têm direitos, mas aqueles que as abraçam têm o direito de serem respeitados, e quando você está invade de forma violenta, literalmente violentando, o que é sagrado para outras pessoas em nome da satisfação do seu próprio ego ou, e isso é bem mais comum do que se pensa, em nome de um projeto de poder, de lucro ou mesmo ideológico, você é antiético e, do ponto de vista da ética, criminoso.

Na verdade, chamar de estupro é em si um reducionismo, pois a violência praticada contra todos os fiéis que não seguem a sua forma de interpretar “livremente” um caminho sagrado é na verdade um “estupro em massa” como o cometido pelos russo quando a invasão da Polônia ou algo hediondo como os campos de concentração, e o tráfico de escravos.

Não há exagero nessas comparações. O que existe é uma percepção cada vez mais apartada entre as pessoas e o mundo, e numa jornada rumo ao próprio umbigo o ser humano substitui a empatia pelo culto ao si mesmo, onde não existe espaço para ninguém além do narcisista que grita sobre os direitos que deseja, ignora os deveres que renega e pisa na ética e no bom senso enquanto faz birra por não ter o mundo a seus pés. Nesse transe nefasto, somente o som dos aplausos de quem concorde com esses ególatras é considerado, pois os demais não têm o direito a opinião ou a terem a sua fé respeitada.

 

Muitos desses ditadores da religiosidade se dizem sacerdotes ou assumem posições de alta importância entre os leigos de suas instituições religiosas, pois o que seria de um ditador sem a coroa, o cetro, o poder de decisão sobre o outro ou um manto para adornar-lhe o ego?

 

O escopo de cada religião é definido, tem a ver com seus dogmas, sua cultura de origem, o momento histórico onde foi desenvolvida, a migração de seu lugar de origem para o local onde cada pessoa está, a visão original de mundo de um povo. Nenhuma dessas coisas, entretanto, tem a ver com o que o fulano pensa que ela é, mesmo que esse fulano seja você ou eu. Vivenciar a espiritualidade de acordo com o seu sentimento religioso não lhe dá direito de rotular a sua experiência religiosa com o nome de uma religião específica, e fazê-lo é um desrespeito ao que seja essa religião, à religião ou religiões das quais esteja “importando” a sua prática, às pessoas que seguem cada uma das religiões envolvidas e ao legado histórico-cultural que as formam.

A atitude honesta é simplesmente dizer que a sua prática é algo pessoal e não está presa a rótulos ou dar um nome original ao que se pratique sem precisar roubar para si um nome que não é o seu. Essa atitude, entretanto, vai de encontro ao principal motivo que leva as pessoas a abraçar um sistema religioso qualquer: o de se sentirem especiais, seja como “povo escolhido”, seja como pessoas mais “evoluídas” com relação às demais, “menos esclarecidas”. E quando se usurpa um nome para algo que se inventa ou sincretiza a fim de conseguir um reconhecimento para as próprias práticas ante aos que se arrebanha ou aos que se deseje impressionar, ao invés da necessidade de introspecção, autoconhecimento e conexão com o divino que devem ser o motivo de toda a jornada de fé, você pode estar visando qualquer coisa, menos o sentimento religioso em si.

Publicado por: Alexandre Malhado | 26-02-2019

A trave nos teus olhos

No último domingo o Papa Francisco, chefe da Igreja Católica Apostólica Romana, decidiu comparar crimes de seus sacerdotes com o que chamou de “sacrifício de crianças” em “rituais pagãos”. Não sendo honrado o suficiente para assumir a responsabilidade de seus atos, o líder daquela instituição novamente recorre aos povos e crenças por eles ditas pagãs como bodes expiatórios, a fim de diminuir ante ao seu povo mais uma das atrocidades que fazem.

Eis a minha resposta a esse insulto.

1 Não julgueis, para que não sejais julgados. 2 Pois com o critério com que julgardes, sereis julgados; e com a medida que usardes para medir a outros, igualmente medirão a vós. 3 Por que reparas tu o cisco no olho de teu irmão, mas não percebes a viga que está no teu próprio olho? 4 E como podes dizer a teu irmão: Permite-me remover o cisco do teu olho, quando há uma viga no teu? 5 Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás ver com clareza para tirar o cisco do olho de teu irmão.

Mateus 7:1-5
Extraído da Bília King James Atualizada

Criticar a religiosidade alheia é algo complicado e delicado de se fazer, mas criticar para tirar de si a responsabilidade pelas atrocidades que seus sacerdotes perpetuam, ainda mais sendo quem o fez o líder da organização que mais perseguiu os pagãos em toda a história da humanidade. Isso não é apenas hipocrisia, é mais um crime e mais um desrespeito a todos os que pereceram ante ao “amor” divino que o Cristianismo deu aos Filhos dos Deuses enquanto os queimava, afogava, flagelava ou enquanto ainda nos ataca e nos ostraciza em nome desse mesmo conceito doentio.

Conseguimos finalmente nos ver livres o suficiente para cultuar nossos Deuses em paz, Papa Francisco. Não os compare com a mitologia da sua fé citando “sacrifícios de crianças” como se o Paganismo fosse uma só fé, e não um tronco religioso multicultural, multimilenar e de uma vastidão que o senhor jamais conseguiria entender sem dele fazer parte.

E já que estamos apontando falhas na crença alheia, lembro que o sacrifício era algo perfeitamente possível nos primórdios da sua fé,  e que até hoje se mata em nome do deus das religiões abraâmicas. Vocês são os principais responsáveis pela degradação do meio-ambiente com a sua máxima “crescei e multiplicai-vos” sem ter qualquer respeito ou cuidado com o planeta em que todos vivemos.

Então, senhor, leia as escrituras da sua fé antes de querer dividir conosco a culpa pela pedofilia praticada e acobertada pelos seus sacerdotes desde os primórdios da sua crença, que aliás é erigida sob a figura de Abraão, um patriarca incestuoso (pois Sara era sua meio-irmã) que deitou-se com outra mulher (e permissão da esposa não o inocenta de adultério), preteriu seu primogênito, Ismael, que não se poderia chamar de bastardo pois foi concebido com a escrava Agar sob as bênçãos e a anuência de Sara e, não menos importante, que sacrificaria o filho mais novo, Isaac, de bom grado se um anjo não lhe parasse o golpe da adaga.

 

Abraão no momento do sacrifício de seu filho Isaac para a sua divindade Abraão no momento do sacrifício de
seu filho Isaac para a sua divindade

 

Claro, a sua religião deve ter toda uma explicação que justifique isso tudo, e que sinceramente não nos interessa. Não temos a intenção de julgar a sua fé pois não entendemos seus meandros e nem pretendemos entender, enquanto povos da terra, a sua mística e mitologia. Atenha-se à sua própria religião e deixe-nos em paz. Nossos Deuses nada têm a ver com a divindade escura que vocês cultuam e rebaixam a “anjo caído” para enaltecer seu Deus enquanto rebaixam a santos os nossos Deuses ou Os demonizam para dar forma ao seu dito “inimigo”, que é a personificação perfeita dos atos “caridosos” do Cristianismo para conosco.

Não é nosso objetivo entender a sua fé ou tentar explicar qualquer das inúmeras correntes do Paganismo que sobreviveram à sua sanha persecutória. Nosso dever mútuo enquanto sacerdotes é respeitar um ao outro e todas as demais expressões da fé, como todos os humanos assim deveriam fazê-lo e como é responsabilidade de todos nós, sacerdotes, auxiliá-los. Entenda, entretanto, que o nosso respeito não significa que ficaremos calados enquanto somos comparados aos seus criminosos de batina ou que aceitaremos cordatos as suas ofensas de dessacralizações.

De nossa parte, e especialmente de minha parte, trabalhamos para curar as chagas que as suas demonstrações de “salvação” deixaram nos corpos e nas almas de nossos povos. Não tento sequer por um instante dizer-lhe que nos pretendemos perfeitos ou mesmo negar que nossos antepassados cometeram vários crimes no decorrer das histórias de cada ramificação e cada reflexo do que vocês chamam conjuntamente de Paganismo, mas além de não impingir-lhes culpa pelo que fizemos nós exigimos que nos respeite pois não temos a mínima intenção de continuar a ser o “bode expiatório” da sua incompetência sacerdotal e humana.

Cuide do seu rebanho e deixe os filhos da terra em paz, e que O Bom Deus – O Dadga – o abençoe e o torne digno do manto que veste.

Publicado por: Alexandre Malhado | 06-01-2019

Rosa, azul, vermelho e cinza

Eu não creio na História sem análise de fatos, então escutei e reescutei o fato: o discurso da Ministra Damares Alves que tanto deu o que falar. Como uma pessoa bastante crítica ao pouco que sabia do currículo e aos posicionamentos atribuídos a ela eu senti que devia analisar tais fatos. Estas são as minhas impressões sobre o que escutei dela no discurso.

“O Estado é laico, mas esta ministra é terrivelmente cristã”.

A frase foi dita como ponto de descontração no início do discurso e, embora quando tirada de contexto preocupe, dentro dele não vi nada demais. Apenas uma pessoa se referindo à própria fé, o que não deveria causar espanto por si só mas, especialmente pelo slogan com o deus cristão acima de todos que este governo usa, traz um pouco de medo para o discurso que se inicia. Com o progresso da fala, o medo se dissolve em cautela pelo que virá não em palavras, mas em ações. Já no final do discurso o medo cessou.

“Todas as configurações familiares nesse Brasil serão respeitadas”

Espero que sim. Escutar isso foi um bom começo. Mais tarde ela fala da sua própria configuração familiar, sendo ela mãe adotiva de filha indígena. Mais tarde ela fala especificamente sobre a comunidade gay (e não, eu não uso a tal sigla porque gay significa alegre e a sigla é fria, chata, estressada muda o tempo inteiro).

“Seremos proativos para evitar a gravidez inesperada que alcança meninas cada vez mais novas”.

Acho impossível cuidar desse problema, que é de saúde pública, sem cair num desastroso projeto de doutrinação teocrática cristã nas escolas. Educação sexual nas escolas é necessária e precisa ser feita corretamente, respeitando a idade e a fase de cada pessoa e de acordo com estudos sérios de quando problemas estejam afetando nossas crianças. Fiquei curioso para ver o que ela fará, mas não ficou parecendo que a doutrinação cristã esteja na pauta.

“Um dos desafios desse governo é acabar com o abuso a doutrinação ideológica. Trabalharemos junto com o Poder Público para construir um Brasil onde nossas crianças tenham acesso à verdade e sejam livres para pensar”.

Acabar com o abuso ou redirecionar para uma doutrinação diferente? Esta é minha preocupação com o “Escola Sem Partido” e o currículo religioso dela continua a preocupar, mas não tanto quanto o discurso político de outros membros do governo.  Este é um tema ao qual é preciso ficarmos atentos.

“A criança mais nova que está falando com esta ministra e quer se matar e está se cortando tem apenas 7 anos de idade, mas há registro no SUS de crianças de 5 anos de idade. O Suicídio alcançou as nossas crianças e adolescentes, e este Ministério vai dar uma atenção especial (…) à questão do suicídio e automutilação de crianças, jovens e adolescentes. (…) Isso é um fenômeno que nós vamos aprender a lidar com ele, e nós vamos aprender isso juntos, Ministério, pais, famílias… todos juntos no combate ao suicídio e à automutilação”.

Foi a partir daqui que o discurso começou a ficar interessante, e nunca escutei nenhum governo falar disso. Acompanhei meu filho ter vários amigos com esse problema e o orientei o melhor que pude. Ele mesmo tendo pensado em se matar quando mais jovem, encontrou em mim o suporte necessário para seguir seu caminho e seus sonhos, tenho ajudado não apenas a si, mas a seus amigos, sem introjetar o sofrimento deles e atuando junto a eles de forma positiva.

Este é um problema seríssimo e extremamente silencioso até então. É um bom sinal ver que esse Ministério olhará para esse ponto.

“Um dos principais ativos de nosso país é a diversidade cultural. Povos, línguas, raças, credos e cores fazem parte da alma do povo brasileiro. Todos nós temos um pouco de cada um. Este Ministério cuidará de todos, respeitando as suas individualidades, promovendo políticas públicas equitativas que ofereçam oportunidades, e proteção a todos”.

Há dois pontos aqui que achei interessante, analisando da minha visão como sacerdote: a ênfase em que a nossa diversidade é um ativo e a promessa pelo respeito a essa diversidade, especialmente no tocante à crença. Essa era a minha principal reserva contra o nome da ministra à pasta e minha maior preocupação envolvendo o seu trabalho.

“A Lei Brasileira de Inclusão (…) está aprovada desde 2016… 2015 e ela ainda não foi regulamentada. E aqui eu trago a boa nova: o presidente Bolsonaro determinou que nos próximos meses seja regulamentada a Lei Brasileira de Inclusão”.

Tornar-me uma Pessoa Com Deficiência e sentir a dificuldade para atividades as mais corriqueiras mostrou-me uma realidade que ninguém está preparado para vivenciar. Hoje entendo bem melhor, embora ainda não completamente, o que passa uma pessoa deficiente e ainda estou no limbo entre saber se sou ou não, ou se sou em parte, etc. A definição é uma zona e a não-regulamentação dessa lei é parte disso.

Ter no discurso um lembrete disso é importante, ainda mais com o brasileiro começando a perceber que aquelas pessoas que têm tantas vagas “privilegiadas” não têm privilégio algum, e sim necessidades especiais. Gostei do como isso é abordado e de saber que a ministra esteve envolvida com essa lei quando assessora.

“Lutaremos contra a tortura. Teremos um diálogo aberto com a comunidade LGBTI. Nenhum direito conquistado pela comunidade LGBTI será violado”.

Não há margem para interpretações, aí. Nenhum direito conquistado será violado. Agora é esperar para ver o que será feito por essa parcela da população, que é uma das mais aterrorizadas o resultado das eleições.

E então o discurso muda de tom…

Depois dessas frases ela fala um pouco de si e chora ao falar da filha adotiva que não pode estar no evento pois ambas foram ameaçadas de morte. Vale a pena ler o que ela disse antes de continuarmos a análise:

“Minha história não foi respeitada, e por muitos meios de comunicação. Como vocês sabem, senti na pele o abuso físico… sexual… psíquico… e nos últimos dias também o abuso moral foram implacáveis comigo. Minha crença virou chacota e motivos de risada tanto nas redes sociais quanto pessoalmente. Inclusive por grandes intelectuais, parlamentares, líderes de partido…

“O Abuso que sofri. Algo íntimo, compartilhado entre os meus irmãos de fé e de quem nunca escondi, virou manchete de jornal. Nunca falei da minha vida íntima como discurso de Estado. Não tenho nenhum orgulho de ter sido barbaramente abusada. Isto não é orgulho e isso não me fez ministra.

“Não fui respeitada. Não fui respeitada como menina, como mulher, como mãe e como filha. Não fui respeitada como brasileira. Minha história não foi vinculada com muito conforto e motivo de superação, mas como escárnio por uma pequena parte da mídia e de forma irresponsável. Quando riram de mim, riram de um terço das meninas do Brasil que são abusadas sexualmente”.

Neste momento eu só conseguia me lembrar de tantos e tantos “filhos da terra” que arrotam serem filhos dos Deuses e “se acham” o próprio Merlin enquanto escarnecem nas redes sociais sem sequer tentar entender o que foi dito. Essas pessoas, cegas pelo preconceito e pelo ódio fomentado mais fortemente desde o processo eleitoral de 1994, onde a polarização PT-PSDB foi inaugurada, correm para “lacrar” e “viralizar” memes, mas eu não soube de uma sequer ter dito que assistiu ao tal discurso. Eu, percebendo o forte movimento de pessoas nesse sentido, resolvi assisti-lo e, como alguém que foi vítima de abuso na infância, parei e escutei essas palavras algumas vezes enquanto a compaixão pela ministra arregalava meus olhos ao imaginar o que a nossa sociedade se tornou.

Não importa se disseram que ela faz ou disse algo, eu fui lá ver o contexto, escutar a fala, tirar minhas próprias conclusões, e 18 anos após ter iniciado minha jornada rumo ao sacerdócio eu olho para a imagem daquela senhora no vídeo e fico chocado ao ver a que ponto chegou a minha comunidade onde não-raro acho sugestões de matar o Bolsonaro em “memes” compartilhados irresponsavelmente. Percebo a maior parte dela sem qualquer empatia por aquela mulher, pois ela não coaduna com o pensamento ideológico que dominou meu povo e nem compartilha da mesma fé que eles.

Envenenados contra quem quer que se oponha à “verdade” que acreditam e repetem não em azul, rosa ou mesmo em vermelho, mas em tons de cinza fúnebres qual uma mortualha frenética e ávida por sangue, eles clicam e clicam e gargalham da desgraça dela com base em frases tiradas do contexto e repetidas por quem quer tudo, menos que sejamos novamente uma nação.

Eu me compadeço dos filhos da terra e choro a morte do espírito que habitava cada um deles, agora substituído pelo ódio irracional. Penso em quantas vezes cheguei perto de tornar-me eu mesmo um desses zumbis e perder-me não da minha opinião ou preferência X ou Y, mas de mim mesmo, e faço uma pausa no vídeo enquanto, num segundo, a imagem dessa cena me vem à mente e toma horas para deixa-la pelos meus dedos para estas palavras.

Para a maioria de nós a empatia está morta. Dá-se o nome de “resistência” ao que deveria ser chamado de morte da alma devido ao envenenamento pela cólera. A verdadeira resistência é arregaçar as mangas e trabalhar, aceitando que a democracia finalmente seguiu seu rumo, apesar de estar contra tudo e todos.

Respiro… e o vídeo continua. Ela fala sobre os indígenas o drama de mães que precisam enterrar vivas as suas crianças, e embora este seja um assunto que eu poderia falar num texto em separado, deixarei que quem assista ao vídeo reflita por si. Cito apenas a frase de Damares sobre isso:

“Mas eu vou dizer uma coisa pra vocês como uma terrível cristã: é o choro que o Grande Tupã escuta, e o Grande Tupã ama curumim”.

Em suma, tudo o que escutei a respeito dela, e eu pesquisei bastante sem achar nenhuma fonte confiável, era falso. Darei a ela um voto de confiança, assumindo ter criticado a escolha de seu nome para a pasta sem elementos suficientes para ter formado a opinião que formei. Foi uma gota de cólera que espirrou, e graças aos Deuses que não foram três.

Se há uma coisa que aprendi com essa coisa ridícula do rosa versus azul que tomou a mídia é que a grande maioria das pessoas está tão fortemente manipulada que não consegue mais enxergar além do boato, e o fato… abafado e fátuo, é brilho inerte que não chama mais a atenção das pessoas.

Publicado por: Alexandre Malhado | 29-10-2018

A Grande Festa da Democracia

Então acabou. Um presidente foi finalmente eleito. Sobra a esperança por tempos melhores para o lado “vencedor” e o desespero da incerteza para o lado “derrotado”. É uma grande festa de memes, pipocando em nossos celulares mais rápido do que possamos dizer democraticamente. É lindo ver os eleitores sair às ruas e fazer um candidato que não tinha dinheiro ou tempo de TV ser eleito graças ao poder da Internet! É como se fôssemos a Primavera Árabe que deu certo!!! O povo finalmente abre as portas para um novo futuro para toda a nação!!!

Passadas algumas horas, ainda sob algumas buzinas além do horário permitido e escutando os fogos de artifício neste início da madrugada porque o brasileiro ainda não sabe ser educado, debruço-me ao teclado e imagino-me olhando nos olhos de quem me lê, agora. Olho nos seus olhos e te convido a ler as reações dos perdedores nesta data histórica: 28 de Outubro de 2018. Observo seu semblante imaginário percorrer a sua linha do tempo como se eu estivesse atrás da tela do seu computador enquanto lembro de ter convencido uma pessoa homossexual a não se suicidar e ter tentado tranquilizar tantos outros que pretendem sair das redes sociais com medo de perseguição e retaliações por terem votado naquela à qual até chamam de a maior organização criminosa da história.

Imagino quantas vezes algo como “É muita frescura!”, “Chora Carolina!” ou É melhor ‘Jair’ se preparando pra mudar pra Venezuela! aparecer na sua tela. Para mim é tudo muito… real. E muito surreal, também! Imagino seus olhos, leitor, percorrer linhas ou assistir a depoimentos em vídeo desesperados dos que até alguns meses atrás você estaria abraçando e que agora se tornaram o adversário, o inimigo da democracia, e não importa qual lado fale, é isso o que um diz do outro. Talvez o terrorismo psicológico nunca tenha sido usado em nosso país com tanta finesse, digna do Marquês de Sade ou de Maquiavel, mas certamente foi a vez que mais fortemente o sentimos.

Imagino pessoas com medos reais de serem perseguidas, torturadas, assassinadas, cerceadas, deportadas ou qualquer outro evento trágico em suas vidas graças à cruel produção de notícias falsas e acusações exageradas ou mesmo totalmente infundadas. A verdade não mais importa pois o medo não obedece à razão, e penso nos dedos trêmulos que digitavam cada palavra, enquanto o outro lado (e talvez você) estava mais preocupado em celebrar a vitória sem perceber como cada meme foi cravado qual adaga na alma de quem as recebia e não estava entre os ébrios sorridentes. Você deve ter lido e quem sabe ignorado ou até rido dessas lágrimas, mas elas estão lá, mesmo que vertam só na alma enquanto quem escreve esteja silencioso e atônito demais para deixar que fluam.

A estratégia do terror foi precisa e cruel, e qualquer olhar crítico minimamente desapaixonado mostra isso quando se lê essas linhas de quem votou no candidato derrotado. A questão é que ambos os lados foram igualmente cruéis e usaram as mesmas táticas. O medo achou um terreno fértil na fala sem filtro e debochada do agora presidente da república que escolhemos e na sempre atuante militância que alegremente postou ser o caixa dois depois das acusações feitas pelo opositor. Floresceu também nas colocações do vice-presidente eleito, e isso foi bem explorado por profissionais de ambos os lados que ganham muito dinheiro criando heróis e vilões com narrativas cuidadosamente preparadas com uma única intenção: enganar o povo.

As pessoas que votaram na esquerda agora observam a derrota massiva que deixou claro que o Brasil não quer mais a corrupção e não vai mais perdoar quem a comete, mas elas também enfrentam os fantasmas deixados pelas táticas terroristas usadas na campanha e são parte de um país fragmentado assim como você. A polarização não acabou. A luta pela democracia continua! E essa batalha só pode ser vencida com uma palavra: o diálogo. Para curarmos o país precisamos descer de nossos pedestais de superioridade moral, não importa em quem tenhamos votado, arregaçarmos as mangas e trabalhar em prol da cura uns dos outros, pois os dois lados estão seriamente doentes. O nosso povo está muito doente e tomado pelo ódio.

Pare um pouco de olhar para o seu lado da “verdade” e olhe para o do outro. Abrace a dialética que somente é possível através de conversas francas e desapaixonadas, sob a efígie do respeito mútuo. A hora de celebrar já passou. É hora de trabalharmos juntos para que nosso país volte a ser um só e seja livre dessa energia nefasta que nos separou e explora reações primais que nós levam a crer que estamos geralmente certos e o outro, errado.

Abra sua mente para as ideias do “adversário” e realmente os escute. Ambos os lados querem o bem do país e discordam apenas na forma de se chegar a um bom resultado, mas quem controla o povo qual marionetes e tem o real interesse de nos ver aterrorizados e divididos em grupos cada vez menores, em bolhas sociais cada vez menos abrangentes e cada vez mais controláveis, controla também o contexto de cada fala. Como? Bom, se você realmente leu este texto todo o que está em negrito te pareceu um tanto estranho, mas se você apenas passar os olhos pelo que escrevo o seu cérebro vai apenas absorver o que está em negrito e uma ou outra coisa. E tendo a sua atenção voltada apenas para parte do texto ele perde o sentido original e parece ser uma coisa completamente diferente. E é assim que as pessoas se informam quando sabem que a informação vem do “inimigo”, pois já assumem que ela seja falsa ou exagerada.

É nos libertando do preconceito que nos leva a ver apenas parte do que o outro fala e ousando mergulhar em suas opiniões e críticas que podemos nos reencontrar e, então, poderemos finalmente dizer que nós somos os vencedores e os verdadeiros donos da nação!!!

Publicado por: Alexandre Malhado | 20-06-2018

Mas isso aqui não era sobre Druidismo?

Era, e ainda é. Agora, entretanto, outros assuntos relacionados à minha prática espiritual começarão a ser abordados. Se antes eu falava apenas de Druidismo, agora terei mais assuntos que poderei abordar.

Mas por que isso, agora?

Porque comecei a sentir a necessidade de falar tanto com quem aprende quanto com quem trabalha com o Tarô a fim de transmitir um pouco da minha experiência na área. Pretendo fazer o mesmo com outros assuntos, mas aos poucos, e não acho uma boa ideia criar um espaço separado para cada coisa.

Deixando todos os assuntos juntos eu terei o desafio de organizar as coisas melhor por aqui, mas uma vez realizada essa transição poderei oferecer informações sobre todos os temas da minha vida espiritual, inclusive Druidismo, de forma mais organizada e, à medida em que seja detectada a necessidade, com tradução para pelo menos o inglês.

A transição será lenta, mas a produção de conteúdo está acontecendo. Espero postar em breve o primeiro texto sobre Tarô.

 

E, a propósito…

 

FELIZ SOLSTÍCIO DE INVERNO!!!

 

Publicado por: Alexandre Malhado | 07-11-2017

Argumentação Confortável

As argumentações que tecemos para defender nossos pensamentos buscam não a dialética, mas o eco dos que concordam conosco e, em o fazendo, privam-nos do principal benefício do diálogo: o crescimento e amadurecimento de nossos horizontes e ideias.

Nossas redes sociais, percebendo essa necessidade de corroboração, criaram “bolhas ideológicas” e, embora o motivo pelo qual o façam seja assunto para ser discutido em outro momento, o fato é que isso reforça o hábito de conversarmos mais com quem concorda com a nossa visão de mundo, nossa ideologia política, social ou qualquer ideia que defendamos, em qualquer área. O resultado disso é que estamos experimentando dificuldades cada vez maiores ao encontrarmos argumentos e posicionamentos divergentes pois estamos nos tornando cada vez mais polarizados, e estarmos assim é interessante para quem nos deseje controlar.

Na prática, buscando essa argumentação confortável e evitando testar as próprias “verdades” contra argumentos divergentes, criamos nossas próprias bolhas, também, e tal qual acontece nas redes sociais, selecionamos nosso “círculo de conveniência” – e não mais de convivência – de acordo com essa reafirmação do que acreditamos. Crença, aliás, é o ponto fraco desse modo de vida, pois é através dela que nos radicalizamos, fanatizamos, tornamos debate em discurso de ódio e passamos, principalmente a acusar o outro de ser o único a fazê-lo. Durante este processo, que começou tranquilo e termina em arroubos de ódio, que predadores os mais diversos usam a indignação, a ira e principalmente a desinformação para nos transformar em massa de manobra para servirmos aos seus objetivos pessoais enquanto permanecemos iludidos e crentes de que estamos lutando por algo que essas pessoas não têm a mínima intenção de levar adiante.

A solução para isso é simples, mas nada fácil: saia da sua zona de conforto e duvide primeiro de tudo o que acredite. Ouça o outro mesmo que discorde dele não para ser convencido da ideia que ele defende, mas para encontrar meios de melhorar seus conceitos e seu modo de encarar o outro, mas faça isso com empatia, e não com preconceito ou desdém. Toda ideologia, por mais errada que esteja, tem algo de interessante através do qual se torna interessante para o grupo que a defende e, desta forma, pode ser fonte de inspiração para que você pense num mundo melhor.

Escute. Mais do que falar, realmente entenda o que o outro quer dizer, não apenas para encontrar os erros no discurso, pois a oratória da pessoa pode não ser boa, mas isso não afeta a convicção que ela tenha ou o mérito do que acredite e, aliás, muito cuidado com a oratória, pois defender bem uma ideia não a torna boa, apenas fundamentada e você só saberá se esses fundamentos são bons ao pesquisá-los com paciência e imparcialidade. Se for ao vivo, converse olhando nos olhos e prestando verdadeira atenção ao que é dito.

Não se iluda: este não é um processo fácil e muito menos indolor, mas quando testamos nossas convicções e trocamos a conversa fácil com quem nos aplaude para realmente questionarmos nosso mundo e nos colocarmos no lugar do outro, crescemos e poderemos ser elementos fundamentais da mudança que buscamos no mundo. Uma mudança que, quase com toda certeza, não será como imaginamos no início do processo.

Publicado por: Alexandre Malhado | 01-07-2017

Saindo das sombras

Há alguns dias anunciei no Facebook que a Ordem Druídica Vozes do Bosque Sagrado está saindo de seu período de recolhimento, pois “nem as rochas dormem para sempre“. Em resumo, a iniciativa consiste em duas ideias:

  1. Formar um grupo presencial para discutir temas ligados ao Druidismo, de acordo com a abordagem que seguimos (histórico/reconstrucionista) com foco na prática familiar ou solitária. Promoveremos com encontros esporádicos, cuja frequência dependerá mais da vontade dos participantes, com discussão prévia de tema pelo através do aplicativo Slack. O app em si ainda não tem tradução para português, mas adaptamos tudo o que foi possível para manter nossas conversas em nosso idioma.
  2. Aproximar-nos da comunidade druídica, pelo menos mas não apenas a nível nacional, disponibilizando um local onde poderão não apenas nos contatar, mas ter um contato com os demais grupos.

Não é um mero bate-papo. São salas focadas em algum aspecto de discussão, e ao passo que outros temas surjam, outras salas serão criadas para que cada um possa conversar sobre o tema que deseje, quando deseje. Claro, se as pessoas quiserem, podemos sempre criar grupos de Whatsapp ou qualquer aplicativo parecido para conversar informalmente, mas o foco lá é nos conhecermos e trocar conhecimento.

Estamos muito animados com esse novo projeto e você está convidado(a) a ser parte dele. Contate-me pelo meu e-mail ou pela minha página no Facebook, caso deseje participar.

 

Abraços e bênçãos!

 

Alexandre Malhado
Bardo – Ordem Druídica
Vozes do Bosque Sagrado

Publicado por: Alexandre Malhado | 18-02-2017

Hoje eu fiz uma doação

Essa é uma temática que não gosto. Aliás, detesto. Filantropia se faz em silêncio. Caridade pública é quase sempre mera indulgência ao ego. Mas dessa eu preciso falar pois os tempos atuais são de tanto ódio que algo de decente precisa ser dito, de vez em quando, para que nos voltemos um pouco para dentro apenas para tirarmos os olhos da podridão do mundo e “pegar impulso” a fim de olhar à nossa volta e fazer algo pelo que nos cerca.

Então, hoje eu fiz uma doação, e quebrarei o silêncio que defendo.

Foi coisa pouca. Um pacote de ração para um casal de protetores que recolhe animais das ruas, no caso gatos, e os dá um lar temporário até que sejam adotados. Adotei 4 (quatro) gatas dele, depois que a mãe do meu gato morreu e ele estava em depressão, e agora ele corre delas pois são todas filhotes e adoram meu rabungentão. Com esses quatro atos eu ajudei a salvar 5 vidas, sendo que uma delas eu ajudei a curar de uma depressão gigante.

E não, eu não tinha condições, mas eles ajudaram a me curar, também. Então, além do amor e do carinho, encaro isso como substituto de tratamentos muito mais caros que eu também não poderia pagar, mesmo com o plano de saúde pagando a maioria das despesas.

Sempre visito esses protetores, e tenho amigos que também são protetores. Todos eles fazem de tudo para que eu tenha gastos menores, sempre. É uma rede onde todos ajudam todos.

Ajudar… essa é a chave de uma doação e, se o foco for outro, ela perde sentido. E o que me move a ajudar animais não tem nada haver com gostar menos de gente ou qualquer outra coisa que já escutei pessoas responderem a quem só critica e não faz nada pra melhorar a vida de ninguém. Esse foi o meu chamado, e foi em direção a isso que minha alma me puxou. É em direção a isso que os Deuses me levaram. O motivo desse texto é justamente fazer com que, ao olhar para si, você descubra uma forma de ajudar, de acordo com o como seu coração pulse.

Foto: Getty Images

Se você quer doar seu tempo ajudando a alimentar ou dar abrigo a moradores de rua, se vai se engajar em proteção aos animais, se vai fazer algum serviço ligado à sua fé, não importa qual ela seja, para que o mundo fique melhor para todos e não apenas para quem pense igual a você, não importa. Apenas faça algo, porque é muito, mas muito simples ajudar. Quase tão simples como esquecer de fazê-lo.

Agora, quanto ao ego, esqueça-o na hora de ajudar. Faça o em silêncio e, se falar, que seja para inspirar aos outros, pois é mais importante que você, antes de dizer que eu ou qualquer outra pessoa faz uma “bela ação”, pondere sobre trocar o comentário por um auxílio.

Pode ser o tempo para quem precise, por exemplo, de um prato de comida ou de aulas de reforço, ou no caso dos animais de rua, especificamente, um pacote de ração, ajuda financeira para castração, um remedinho, um lar temporário ou mesmo o compromisso de, de vez em quando, repostar os pedidos de resgate e adoção responsável de uma ou mais pessoas / instituições que ache legal, mas especialmente de algum protetor solitário, que não tenha uma ONG para ajudá-lo e possa te retribuir com o sorriso que recebi hoje, ao chegar lá com esse pacotinho, que não é 1% do que ele faz, mas no momento é o que pude fazer.

E você, em algum ponto, poderá também, se pesquisar as opções na área que deseje ajudar.

Tá, mas o que isso tem haver com o Druidismo? Responderei com uma tríade:

“Os três deveres de um Druida:
Curar a si mesmo,
Curar a comunidade,
Curar a terra.
Sem o que não pode ser chamado de Druida”

Tríade bretã

Muito agradecido por qualquer ajuda.

Publicado por: Alexandre Malhado | 24-08-2016

Sobre hipocrisia, aborto e opções

Mais uma mulher morre em clínica clandestina de aborto e os “defensores da vida” celebram sua morte. Eis meus “centavinhos” a esse respeito:

Enquanto tratarmos do assunto com base em premissas religiosas, e não como um problema sério de saúde pública e de valores pessoais, Isso continuará a acontecer.
Interessante é ver os mesmos “defensores da vida” aplaudindo uma morte, mas fazendo nada para que ela tivesse condições de aderir, por exemplo, a um programa de adoção pré-parto ou que tivesse informações e assistência melhores para tomar a decisão.

A onisciência das pessoas baseada no que elas não fazem ideia é um dos piores problemas da humanidade. “Deve ter sido isso” e “com certeza aquilo” são posturas fáceis e tão covardes quanto a de matar o feto que eles defendem, mas no cu dos outros é sempre refresco e, apesar de contra o aborto, não fazem nada além de apontar dedos para quem esteja considerando a hipótese.

Mexer a bunda e fazer algo que é bom, para que não haja na mente da próxima a falecer a necessidade de recorrer a isso essas pessoas não fazem. Pois façam, seja por convicção de que o aborto é atroz como pregam e como não praticam com o “próximo” nunca a não ser que pense como eles, seja por ter opções que valorizem a vida e lhe deem respaldo psicossocial para poder levar a gravidez a termo e fazer uma família que não teve a bênção de ter filhos possa adotar uma criança.

Lembrando que a assistência psicossocial não é uma pessoa idiota tentando forçar a mãe a ficar com o bebê ou avisando pra família dela do caso sem que ela permita. Assistentes sociais são, nesse ponto, péssimos hoje em dia e tanto a legislação quanto a prática profissional precisam ser revisados, para esses casos.

E falando nisso, lutem para que a adoção seja um processo decente no país, já que se importam com as crianças e valorizam a vida. Ser hipócrita e apontar o dedo é mole. Trabalhar para encontrar soluções de fato, isso raramente algum dos que acusa faz.

Publicado por: Alexandre Malhado | 23-02-2016

8º dia druídico – Prática Diária

A vivência do Druidismo dá-se no cotidiano, e embora muitas pessoas gostem, optem e mesmo sintam-se melhor ao fazê-los, não há necessidade de ritos quando cada gesto é um pequeno ritual que te conecta aos Deuses, aos antepassados e ao solo. Essa forma de encarar o mundo é a essência da minha prática druídica, e é sobre essa forma de estar conectado com o que muitas vezes ignoramos e que ainda precisamos aprender a enxergar que resolvi falar.

Desde o último texto, demorei quase três anos olhando para esse texto até que eu achasse em mim o que faltava transcrever aqui. Faltou nesse tempo, basicamente explicar uma coisa: na sua vivência druídica, estando você num momento de rito, solenidade, recolhimento ou simples caminhada diária, você será sempre um filho e um instrumento dos Deuses, de acordo com o comprometimento que decidiu ter com Eles. Jamais esqueça-se disso.

Leigos ou sacerdotes, curiosos ou estudiosos, todos podemos perceber diariamente quais são os desafios para tornar a prática da nossa fé e dos nossos estudos mais verdadeiros e significativos, cada um com as nuanças que lhe caibam. Cito aqui apenas alguns conselhos, não para seguir uma prática, mas para que descobrir a sua forma de vivenciar o Druidismo sem sucumbir ao pior de todos os obstáculos que encontrará pela frente: você mesmo.

Conheça a sua fé

A primeira coisa a fazer é compreender o que é o Druidismo, pois em meio a tanta informação que hoje podemos encontrar na Internet há também quem divulgue os maiores impropérios uma vez que hoje, mais do que nunca, para divulgar uma ideia basta estar conectado.

Existem um sem-número de vertentes druídicas no mundo, algumas que o encaram como religião, outras que o encaram como filosofia de vida e algumas, inclusive, veem os Deuses como manifestações arquetípicas do deus cristão, por exemplo. Essa é uma discussão complicada e geralmente mais problemática do que frutífera, e se você está começando a trilhar um caminho druídico eu te aconselho… não, eu te peço com veemência que estude e, principalmente, que não coloque a sua jornada sob a responsabilidade de outra pessoa que não de si.

Também não posso te dizer uma definição que abarque o que seja o verdadeiro Druidismo. Darei, então, uma definição ampla, simples e básica para reconhecer o que é e o que não é Druidismo de forma direta e clara segundo a minha vivência e de acordo com a vertente que eu pratico: a histórica. E ao ler minhas palavras a partir daqui, tenha em mente que tudo o que falo é baseado nessa vivência e na forma como o trilho o meu caminho com os Deuses. Se você pratica segundo outros preceitos, espero poder ajudar a enriquecer a sua prática falando da minha experiência.

O Druidismo é uma religião politeísta diretamente ligada à cultura celta, seus Deuses, suas histórias, suas lendas e seus valores. Sua prática remete-se a três pilares: os Deuses celtas (sim, apenas Eles), a Natureza e os antepassados, sejam eles de sangue, de fé ou todos os que já pisaram no solo em que estamos no momento.

Isso não te impede de ter uma excelente relação com Deuses de outros panteões ou conceitos que adicionarão à sua prática, mas essa relação se dá de forma paralela à vivência da fé em si. Afinal, poder você pode tudo, mas nem tudo o que você fizer poderá ser chamado de Druidismo, e nem deve até por respeito aos outros conhecimentos que adquira. Saber separar o que é a sua prática do que é a nossa fé é um exercício que trará uma melhor compreensão do que é cada uma das coisas que você estuda.

Como eu disse antes, existem muitos entendimentos do que seja o Druidismo. Converse com praticantes das mais diversas linhas, expanda seu círculo de conversas e mantenha a mente aberta por um lado e vigilante por outro. Não demorará a encontrar os charlatões e iludidos, mas ao mesmo tempo você encontrará pessoas com trabalhos seríssimos e com práticas maravilhosas, mas absurdamente diversas do que você tinha em mente no início (tenha sido ele há décadas ou a minutos) e nas quais você poderá reconhecer os Deuses em ação.

Conheça os Deuses

Essa é a parte mais simples, mas com escutei de um lama tibetano uma vez “o simples nem sempre é fácil”. Leia a respeito Deles, estude Suas histórias e lendas, mas procure sempre livros de qualidade, pois o que existe de livro ruim falando dos celtas é algo absurdo de impressionante! você pode acessar aqui a bibliografia indicada por esse site. Falaremos mais dos Deuses no próximo texto.

Honre seus antepassados

Em primeiro lugar, honrar não significa aplaudir de pé o que tenham feito. Olhe para os que vieram antes de você com a reverência que merecem e com o respeito que todos devem receber de ti, mas jamais esqueça-se do olhar crítico ao vê-los. Assim como você, eles foram humanos e erraram bastante, então eles não são apenas fontes de exemplos de sabedoria e virtude, mas um manancial de erros e acertos que podemos estudar, seja olhando para cada um em separado, seja analisando-os como um povo que viveu em outro tempo e sob uma outra realidade.

É importante reconhecê-los como um elo na longa cadeia de eventos que fez você estar aonde está e do jeito que é. É uma estrada imperfeita, que você hoje trilha com um grau maior ou menor de sucesso, mas é a sua estrada, e dos que vieram antes você precisa saber o seguinte:

  • Daqueles que partilham o vínculo de sangue contigo, você traz a genética e a sua constituição física, bem como muito do seu jeito de ser. A eles você deve reconhecimento por cada inspiração que hoje em dia nos faz pensar num jeito ou noutro de cumprir nosso papel no meio em que vivemos e pelos valores que temos, sejam eles inspirados pelos seus feitos ou aprendidos com suas falhas.
  • Àqueles que partilham o vínculo de fé contigo, sejam eles honrados ou charlatães, você deve repeito por terem fomentado, da forma correta ou errada que tenham conseguido, que cultura e a religião dos celtas conseguisse chegar aos dias de hoje e esteja ganhando cada vez mais substância graças à ciência que a pesquisa incansavelmente. Quanto ao que discorde apenas ajude a disseminar a informação o mais correta possível… e cure;
  • Aos que pisaram no solo que hoje te sustenta e nutre você deve por um lado a gratidão por cada gota de suor derramada e cada gesto que o beneficiou e por outro a atenção para não cometer os mesmos deslizes ou mesmo atrocidades de tantos outros o maltratam. É necessário compreendê-lo para cuidar desse chão que, no momento em que você lendo, pulsa com uma energia imensa e está em cada detalhe do que te cerca, desde o plástico até a natureza que se entremeiam à nossa volta.

Conecte-se com a natureza

Esse é o momento em que quase todos os druidistas que conheci até hoje para em pensam imediatamente em ir para uma cachoeira, uma praia, ou algum lugar onde possam desfrutar de lugares maravilhosos e receber energia da natureza. Isso é fantástico! Faça isso sempre que puder! Mas não é dessa parte feliz que falarei. Afinal, é um texto sobre a prática diária, e não sobre os momentos de relaxar. No dia-a-dia você precisa estar atento à natureza com a qual você interage, e principalmente para quem mora na cidade isso pode ser torturante, mas o fato é que não deveria sê-lo.

Ao escolher trilhar o caminho druídico você está, necessariamente e independente da vertente que ache interessante ou de vê-lo como religião ou filosofia de vida, decidindo participar da cura deste planeta, de forma muito mais pragmática do que idealista. Por isso, e assim como o médico que estuda como tratar uma ferida infectada para limpar os vermes que comem a carne de um animal ferido a fim de promover a cicatrização daquele ferimento, convido você a realmente olhar por onde anda e ponderar a respeito do que vê para, em descobrindo os ferimentos, saber encontrar ou mesmo desenvolver meios de ajudar nesse processo.

Existe concreto demais à sua volta? Concreto é feito com partes de natureza, torcidas pela humanidade a fim de criar algo diferente do que encontramos no mato, mas ali também existe natureza. Descubra meios de suavizá-lo. Você nunca tinha se dado conta de uma árvore fraca no caminho por onde vai pra casa? Estude como fortalecê-la. Notou animais abandonados na região? Pesquise o que pode fazer. Às vezes uma mera postagem numa rede social pode salvar aquela vida e quem sabe ainda completar uma família, por exemplo. Notou alguém destruindo a região? Denuncie e cobre das autoridades atitude.

Muitas vezes você poderá fazer algo a respeito e, outras vezes, não. Quando não conseguir só, procure auxílio de outras pessoas e organize-se para que, na medida das suas possibilidades, você faça parte dessa mudança e, quem sabe, descubra-se mais completo enquanto caminha pela sua vizinhança ou mesmo pelas ruas de uma cidade que visita e onde, já sem perceber, pegou um pedaço de papel no chão e o jogou no lixo.

Entenda a natureza que te cerca, seja ela “orgânica” ou não, como manifestações divinas, e procure tornar o máximo que puder uma expressão Deles, sem atritos ou intolerâncias, apenas cura. Essa prática nos faz compreender que somos parte de um todo que vibra em conjunto e de formas tão diversas que sequer conseguimos imaginar, quanto mais controlar ou compreender.

Juntando tudo isso na sua prática diária

Os ingredientes da sua prática estão aí, todos acima, agora é a hora de darmos uma “receita de bolo” para facilitar o seu primeiro passo. E ela não poderia ser mais simples: não há uma receita de bolo. Os ingredientes estão todos aí, mas para uni-los é necessário estudo, reflexão e, principalmente, respeito. O que posso fornecer são alguns exemplos para que você possa começar a descobrir o seu jeito pois, assim como cada família e cada pessoa são diferentes, a sua prática também será diferente da de todas as pessoas que venha a conhecer, seja por um detalhe aqui ou ali, seja por uma imensidão de coisas.

Mantenha sempre os três pilares do Druidismo na sua mente, e você está num bom caminho para começar. Aos poucos, e ao passo em que se aprofunde em seus estudos, você descobrirá que alguns ajustes serão necessários e, à medida em que você mude, sua prática também mudará, uma vez que ela nada mais é do que uma expressão de ti. Ela será tão viva quanto você permitir que seja, tão maravilhosa quanto quiser torná-la e mesmo tão ressentida cruel quanto a trate com desprezo. Assim como costumo dizer a respeito dos altares, pense na sua prática como um ser vivo.

E falando em altares, eles serão um ponto importantíssimo da sua vivência. Eu falo deles nesses textos.

Pequenos atos de grande simbolismo

Ao construir… não, ao descobrir o seu jeito de estar com os Deuses ao seu lado no caminho, procure estar plenamente consciente do que esteja fazendo a cada momento do seu dia. Você logo perceberá a dificuldade, para não dizer a impossibilidade disso no mundo em que hoje vivemos, mas contente-se com pequenos atos de grande simbolismo.

O jeito de servir a comida, por exemplo: ao servir seu prato ou caso sirva o prato de alguém, esteja consciente não apenas do preço que a comida custou ou de onde está o prato para que o alimento não caia no chão, mas no ato de alimentar-se e na importância de estar com os outros que partilham deste momento. Esteja consciente do propósito da refeição, do motivo pelo qual você precisa alimentar-se e de que esse será o combustível para continuar a sua jornada nesse chão. Independente de você ser vegetariano ou carnívoro, saiba que você no mínimo mutilou vidas ou privou que uma nova vida surgisse, no caso de ovos e frutas, para que você continue a existir.

Aprenda o valor disso e a ser grato por cada grão, e entenda esse ato como o que ele é: você está angariando mais tempo nesse mundo, então aproveite sua refeição da melhor forma que puder e, sempre que possível, afaste-se de qualquer distração que não sejam os sons ao seu redor e, quem sabe, as vozes e os olhares de quem partilha esse instante contigo.

Nesses momentos em que você percebe o que está à sua volta e compartilha momentos com quem ou o que te cerque, em cada um desses momentos, está a sua prática druídica.

Publicado por: Alexandre Malhado | 25-12-2015

Feliz Verão!

“Se você deixar que o seu senso crítico seja substituído por uma ideologia, uma paixão, por uma fé ou mesmo por um objetivo que ache nobre, você se perderá de si mesmo enquanto faz o seu caminho”.

Alexandre Malhado

Uma ideia que flui da alma e escorrem pelos dedos em forma de palavras quando começo a escrever novamente depois de tanto tempo. Se tudo sair conforme planejado, a frase estará em contexto num futuro próximo. Um presente de Verão.

E, falando nisso, um feliz verão
ou qualquer que seja a sua
celebração nesta época!!!

Publicado por: Alexandre Malhado | 21-05-2015

Nossos templos deveriam ser cemitérios

Parece uma proposição soturna, mas não deveria ser, e segundo minha opinião essa é a opção mais adequada às nossas necessidades. Não falarei aqui de nada que remeta ao gótico, a poemas lidos sobre tumbas nem a nada que o senso comum possa entender como nefasto. Falarei de bosques, de beleza, de família e de um contato com a natureza que está cada vez mais nas histórias e menos em nossas práticas. Falarei de resgate e de redescoberta, e de como podemos nos tornar aquilo que sequer imaginamos ser possível.

Se há uma coisa com a qual eu sonho para a nossa comunidade é que possamos ter nossa prática em paz e com a seriedade que ela merece, e tudo começou a parecer possível há algum tempo atrás, quando eu li algumas matérias sobre uma nova forma de funeral que achei muito interessante: uma urna onde você deposita as cinzas de um ente querido (humano ou não, existem urnas para pets) e coloca essa urna no solo, onde virará uma árvore da sua escolha. Isso aflorou em mim uma reflexão profunda sobre o como encaramos nossos ritos e como desprezamos certas coisas essenciais para fortalecer nossa identidade e nosso contato com o que acreditamos ser sagrado, e essa notícia tornou-se solução possível para uma área de ritos relegados: os fúnebres. Veio também de encontro há uma coisa que me incomoda muito: o fato de não termos templos e não nos organizarmos enquanto comunidades para tê-los.

É  entre árvores que somos felizes, mas um bosque demanda cuidado e, principalmente, terreno. A fim de sanar ambos os problemas essas urninhas serviram de ponto de partida para que eu pensasse em formas de viabilizar um bosque calcado na ancestralidade, plantado inicialmente com árvores de vida curta, de modo análogo ao como as bétulas atuam (mas infelizmente parece que não moramos em solo onde elas se adaptem) e aos poucos preenchendo as clareiras com árvores mais longevas, preocupando-nos sempre com a compatibilidade vegetal a fim de evitar que árvores não adaptadas ao terreno, à biodiversidade e ao clima causem algum um desequilíbrio ambiental em nome da árvore tal que achamos linda mas que acabaria com as chances de uma árvore nativa vingar, tornando-se predadora, como ocorreram com as jaqueiras na Floresta da Tijuca – RJ*.

Encampar essa ideia é algo complicado de se fazer, pois há muito estudo a fazer e muito a se pensar. É necessário pesquisar a lei a fim de viabilizar um cemitério nosso (em uma pesquisa rápida no Google achei uma legislação, para quem se interessar em conhecer), e há que se conseguir fazer com que nossa força política e/ou econômica seja suficiente para recebermos um terreno ou que o compremos. Existe ainda a eterna luta por definir o que é e o que não é, de fato, Druidismo ou Reconstrucionismo Celta e como essas práticas, conforme aceitas, mas em meios de usar o espaço de forma realmente respeitosa e como nossas práticas afetariam tanto quem agora esteja em forma de árvore, morando ali, quanto quem ali frequente. Somemos a isso questões que tocam conceitos além do mero ego, mas com as quais temos de lidar, e a necessidade de protegermos esse espaço tanto de bandidos comuns quanto dos vândalos da fé que se espalham por nossa nação como praga mais perigosa ainda do que as que a natureza tem e com as quais teríamos que lidar ao cuidar desse local e teremos os primeiros grandes desafios que teremos de lidar para que possamos fazer algo acontecer.

Apresentados os primeiros problemas, é preciso angariar forças para enfrentá-los, e a ideia de termos um lugar arborizado em cujo centro podemos ter um templo que conte, quem sabe, com escola e biblioteca para nossos estudos e nossas crianças, e que ainda por cima seja local de reunião onde possamos fomentar o estudo e prática de nossa cultura, é um sonho possível e factível. Um santuário onde grupos diferentes possam coexistir em paz, sob as bênçãos dos nossos antepassados, a proteção de nossos Deuses e o aconchego da natureza. um local onde possamos viver sem medo de sermos filhos dos Deuses e onde sacerdócio seja realmente uma função, e não uma tendência colocada em prática na raça e de acordo com a necessidade de nossos pequenos grupos. Um lugar onde todos nos sentiremos em tribo, mesmo que pertençamos a “famílias” diferentes de um pensamento que aponta na mesma direção.

Eu sonho com isso, e quis compartilhar esse sonho com você, na esperança de semear uma realidade futura.

 

* As jaqueiras começaram a matar as árvores nativas da Mata Atlântica da Floresta da Tijuca e tiveram de ser sacrificadas. Não sei se apenas uma parte delas ou todas.

Publicado por: Alexandre Malhado | 28-10-2014

Uma bênção de aniversário e agradecimento

Neste novo ciclo que se inicia em sua vida, desejo-te uma chuva branda ao lado do teu caminho sempre que necessário, para que jamais lhe falte o alimento quando você estiver em necessidade, mas sem trazer o açoite do frio.

Peço para ti um solo seja firme e sólido, mas macio o suficiente para aplacar qualquer queda,
pois assim você as usará como aprendizado, e não como recordações de momentos paralisantes.

Lembro-te da importância de que teu sorriso seja largo e repleto do brilho da sabedoria e da gentileza,
para que você se torne inspiração, e quem o veja consiga perceber o brilho da tua alma.

Agradeço-te por ter feito chover quando tive fome,
Por ter sido o chão quando tive dúvidas,
E por lembra-me que eu também sei brilhar.

Alexandre Malhado

 Para Garnet & Marcos.
Feliz aniversário!

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